terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Do Jantar do teu Dia de Anos

Pode um monstro amar?

Entramos lado a lado, e então reparaste pela primeira vez que coxeio.
"É natural. Tenho uma perna mais curta que outra, mas não se nota quando estou deitado. Nem brilha no escuro." Ri-me muito alto, satisfeito com a piada com que pontuei a justificação. E então fomos vistos.
O empregado sentiu-se com o toque e aproximou-se para nos receber. Tossicou.
Dei pelo toque, endireitei a figura ao longo da gravata, e fitei-o com os 2 olhos, que na minha cara ficam à direita do nariz.
Apercebeste-te também do toque, mas desculpaste-me com um beijo na face esquerda onde orelhas e lábios me desfiguram mas juntam sensações. Vale a pena.
"Uma mesa para dois, por favor".

Pode o grosso ter graça?

Há quem pense que quem tem mãos toscas como as minhas é incapaz de pegar num cálice com dois dedos apenas...
Pois que saibam que também toco piano e sou neuróniocirurgião.
Há quem pense que quem pega num cálice usando apenas dois dedos, como se de uma pinça se tratasse, não deixa a marca dos beiços na borda do copo...
Pois nem toco flauta, nem sei encher balões.
O vinho, claro, era do melhor. Dos melhores. Que disso eu sei. Não bebo mas sei. Sei saboerear. Não bebi uma gota. Saboreei-as a todas.
De olhos fechados, levantei o cálice - sustido, não preso - entre polegar e indicador, e, só com o cotovelo apoiado na mesa, aproximei-o dos lábios que, quase sem mexerem sorveram o líquido tinto "sluuuuuuurp!"..., depois centrifugado contra toda a superfície do paladar, e depois "aaaaah!", o cuspiram num jacto de prazer.
Sou capaz de reconhecer qualquer nectar produzido em solo lusitano. Atiro os seus nomes ao ar, e acerto, acerto para admiração de toda a sala.
Sou capaz de o fazer com uma garrafa inteira, e adivinhar todos os vinhos que nela se misturam- E sem beber uma gota.
Ébrio sem beber uma gota. Repleto sem nada comer.
Não escolhi nada. PRefiro assim. Para que só o sabor do vinho se confunda com o teu.

E tu, meu amor?

Uma gracinha, com sempre. As tuas formas continuam-se ao longo do rasto que ondula ao longo do tapete. A lama ficou onde os teus saltos, os teus pezinhos pisaram.
Meu amor, tu não usas os talheres! E nessa entrega quase animal que diriges ao jantar, revelas a sofreguidão das próximas noites passadas.
Promessas refeitas em todas as gotas de vinho que aceitaste dos meus lábios. Todas.
Meu amor, continua a seduzir-me.
E deixa-me sem sangue, tal como fizeste com estas rolhas que a tua sede secou.

E nós, meu amor?
Nós vamos os dois. Agora.
Puseram-nos fora na altura certa.
-Apreciaste a minha postura digna quando insisti em pagar a conta?-
Só no fim da sobremesa se aperceberam que a acha que tirámos da lareira, para nos aquecer os pés, estava a queimar o soalho.
Chamou-lhes a atenção o fshhhhhhhhh! da gota que pingou das tuas coxas sobre a brasa rubra.. Um fsssssshhhhhhhh! de mil chaleiras. De mil gatos escaldados, lançados de imediato na água fria. Um fsssssshhhhhhhhhhhh! de mil demónios.
Puseram-nos fora mesmo quando queríamos.

2 comentários:

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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