quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Férias nas Biomédicas, Regresso...ao Estádio Engenheiro Vidal Pinheiro - Jogos e Cantigas da Minha Infância

"Viva o Ramalde!"
Dizia-se nos jogos de futebol do nosso contentamento, sempre que uma bola era chutada com a precisão do corpo demasiado inclinado para trás. E com isso classificava-se a imperícia do desastrado avançado, com a dos esforçados mas inábeis atletas da popular colectividade de Ramalde.
A justiça da sentença nunca foi confirmada, - embora também nunca rebatida -, na medida em que, nunca naquele tempo alguém se deslocou à freguesia do lado, para medir com os próprios olhos a colocação do pontapé dos homens da camisola tricolor. Porque, então, aos domingos, todos convergiam ao mítico Estádio (ou Campo!!!) Engenheiro Vidal Pinheiro, para ver a Alma Salgueirista medir forças com os principais emblemas do futebol nacional.
Depois foi o que se viu.

Foi a melhor notícia de 2008.
Com lágrimas nos olhos.
O Salgueiros voltou.
E, porque não há fome que não dê em fartura, os fervorosos adeptos de Paranhos, puderam tirar a prova dos nove relativa à valia dos vizinhos.
No encontro com o Ramaldense escreveu-se história!



Uma Cantiga

Salgueiros da tradição
Tão velhinho e sempre novo
Tu vives no coração
Na alma do nosso povo

O teu passado de glória
Sempre em nós está presente
E a alegria da vitória
Até faz cantar a gente

Salgueiros, meu Salgueiros
Ontem hoje e sempre
Tu serás o mais bairrista
Salgueiros, meu Salgueiros
Vive no peito da gente
Sempre a alma salgueirista

A camisola encarnada
Do meu velhinho Salgueiros
Tem a tradição vincada
No coração dos tripeiros

Não há outro que te iguale
Nem com bairrismo mais forte
Ser salgueirista afinal
É ter a alma do norte.

Salgueiros, meu Salgueiros
Ontem hoje e sempre
Tu serás o mais bairrista
Salgueiros, meu Salgueiros
Vive no peito da gente
Sempre a alma salgueirista

Depois do Tottenham, o Bayern – Em Que se Vive Mais Uma hora em Braga*

Em que se compra tabaco.
E se toma um café.
E se apanha algum frio.
E se passa em frente ao palacete de uma tia. “do Vale”. Abandonado.
E se conhecem mais duas caixas multibanco, de dois bancos de Braga.
Entre cada conhecido que entra no café, relata mais um episodio da ultima digressao.
E de volta à casa de partida, na esplanada retirada do Astoria, ouvimos três alemães amistosamente embriagados, a cantar uma versão anti-turca do jingle-bells, sob a vigilância de dois sonolentos policias.
E se comenta que os ingleses eram mais. E que os suecos do “Hammardeen” mais seriam.
E se entra para o calor de mais um café, numa casa histórica.
E entre cada cara conhecida que entra no Astoria ouço das aventuras de uma outra noite de bola, mas com mais Tuna. Era noite de digressão. E de ritual de passagem. E o Tuno Água Benta “Senhor do Vale, quer vir a Braga?”. “Braga!?! Vamos Lá!!!”. Com os suecos do “Hammardeen”. E o da Vila das Aves. E o de São João da Madeira. Os suecos a rir depois de perder. Nesta mesma sala. Ao som das guitarras. E depois da polícia. No fim da noite. A beber cervejas e a cantar fado. Numa varanda de uma sala especial. No piso de cima do Astoria. Que o dono – outro conhecido – abriu para os suecos do “Hammardeen”. 4-0! “Dessa vez não fomos ao estádio. Mas juntámo-nos na varanda. Com as guitarras. E o regresso no comboio, com os suecos do “Hammardeen”. A cantar depois de perder.

E nos despedimos na carreira com o aceno do costume. “Uma vez fui parar a Famalicão. Só cheguei ao Porto lá para as 5 da manhã! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!”

*com nota dedicatória ao Tuno Hammarby

Depois do Tottenham, o Bayern – da angústia da pontualidade, ao Bracaísmo de um Existencialista

Depois da pedreira. Depois do bairro característico semi-demolido sobre a pedreira. E do bairro incaracterístico e talvez mal-frequentado sob a via-rápida, a cuja berma subimos. Sempre em passo rápido. Para apanhar o comboio.
Eu estou perdido. Mas nativo garante que vamos a caminho da estação ferroviária. E solicita uma desvio. Porque ali há um café. Onde comprou tabaco noutra ocasião. Já só tem um cigarro. E só faltam vinte minutos para as dez e meia. Hora a que deve partir o último comboio. Mas já devemos estar perto.
O café está fechado. E no restaurante não há cigarros. Em 5 minutos pomo-nos na estação. E a composição “Destino Porto-S.Bento” parado no cais.
“Chegamos a tempo!”, incentivo.
“Não vou. Apanho depois a carreira”, desiste o único interessado. “Já so tenho cinco minutos. Ainda tenho de comprar o bilhete. Já não tenho cigarros. É uma hora e dez sem fumar. Estes comboios também não têm quarto de banho. Para ir aflito, vou à meia-noite no expresso.”, explica. “Vamos para um café. Compro tabaco. Alivio-me. Bebemos um copo.”
E conclui:
“É da maneira que vivo mais uma hora em braga.”

Ao som de "Povo Que Lavas no Rio", de Pedro Homem de Mello e Joaquim Campos, na versão de António Variações...

...começo por encerrar... 2007, (uma noite de Novembro, em Braga)

Hoje como há um ano

Em breve,
No Porto, em Braga, no Funchal, no Araújo,
Queimar-se-á dinheiro pelo ar,
Soarão frenéticas as fanfarras,
Figuras de ontem, de hoje e do imaginário cruzar-se-ão no fumo e na espuma
Eu, estou aqui.
Outra vez.

Gostava mesmo de um dia ter um programa de rádio...

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

googling "António Simões do Vale"

"[coisas que ouço]
- Médicos de família e Cardeais. Eu sou o rei de Portugal António Simões do Vale, os nossos avós, os reis de Portugal, General Salcedo Cabral, General António Simões do Vale da Segunda Secção, Guiné, nação mais civilizada do que qualquer nação da Europa, a riqueza da monarquia portuguesa e somos os mais pobres de Portugal, fui General em Braga que tem a mais bonita Igreja de Portugal e do Mundo, Braga, Bracara Augusta. Viajei por todo o lado e estive com os negros. Cardeal Baptista Costa Melo Santos do Porto, General Augusto dos Santos Correia todos mortos. Vi-os mortos. Vivam os mortos que mais portugueses não podiam ser e nunca voltaram a Portugal, nação a morrer. Fiz a guerra. Sou o rei de Portugal. Eu sou Portugal.
- Cale-se, estamos doentes!
- Eu sou Portugal, eu estou mais doente!"

de "Beluga", em "Belogue",
(que justifica um regresso bem mais demorado)

NOTA - foi neste registo que, há muitos muitos anos, me chegou a poesia de António Simões do Vale. Num corredor de autocarro, entre a Praça da República e o Amial. Repetidas vezes.
Então, não travámos conhecimento. Muito menos esta Grande Amizade. Foi antes da Vinicultuna... que como se sabe, torna as pessoas felizes.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Grandes Frases - XCII

"Se o Mar fosse de Vinho, bebia-o todo, e ia a pé até à América!"

o Bôrras, figura típica da Praia da Torreira dos anos 50, falando em nome de uma Gente com sede de emigração, - Pausa para Homenagem aos Heróis da Faina do Bacalhau , da Costa Nova para a Terra Nova e sugestão de visita ao Museu do Bacalhau em Ílhavo Fim de Pausa -, evocado no Almoço de Natal.

Ao Bôrras, onde quer que esteja, um grande "Vou Já Cagalhão!..." e um Feliz Natal,


"...pchhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!", parece ouvir-se vindo de lá do Atlântico.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

A Propósito

"Frente à vitrina em cintilação de jóias, faiscante de luz e de espelhos, Fraülein, emplumada, com peles, olha sequiosa; a face branca, virginal, de olhar azul, está lívida, crua, na dureza da reverberação eléctrica. "Que sim, que vai, mas quer cear e uma blusa, pois outra não tem, além daquela, de seda, que lhe cobre os ombros nus sem camisa." E Fraülein, vem. Os asfaltos trepidam sob a eterna torrente dos taxes, dos omnibus, das carroças, dos trens; nos ares em trevas, com edifícios negros, altaneiros no céu constelado, vai um carnaval de luzes brancas, vermelhas, azúis, verdes, rubis que se apagam, se acendem, fantasistas, como pirilampos eléctricos. E a grande multidão passa, em silêncio, ora lívida nos fachos das vitrinas faiscantes, ora espectral e fantástica, nos intervalos em trevas. Surdo silêncio, confuso murmúrio, sonoridade solene de grande artéria nocturna. A torrente de táxis rola, sem cessar, viscosa, nos asfaltos elásticos, no ritmo do seu tumultuoso caos.
O restaurante faisca de luzes, pejado de multidão, na atmosfera viciada. Chocam pratos, tinem talheres, sob as ondas melancólicas de uma orquestra regida por Strauss; a um canto, um grupo de velhas, extáticas, secas como múmias, contempla fascinada o maestro famoso. Religioso silêncio respeita os ritmos melódicos. Fraülein, ceia, famélica, Fraülein devora. Fraülein aquece, com bifes, chouriços, frutas e doces, o corpo gelado de jejuns. Fraülein jovial, despe-se no quarto tépido, com ingenuidade cínica, num à vontade de hábito. E rola no leito, numa algazarra bárbara, nein, nein, nein...
Oh! mach! mach! mach!
E Fraülein fremente, insaciável, oh! mach! mach! mach!
Os músculos, tetanizados, do braço fatigado, não podem mais, desistem exaustos; e Fraülein, insaciável, não dorme, oh! mach! mach! mach!
E a madrugada vem: Fraülein, emplumada, de peliça, caminha ligeira, nas ruas solitárias, limpas, da linda Charlottenburg. E, ao despedir-se, num beijo, garota, sorri: mach! mach!"

de "Um Estio na Alemanha", de Abel Salazar

Era Assim

Saía de casa bem antes da meia-noite. Já éramos menos do que foramos, e as trocas de prendas faziam-se antes da hora convencionada.
Saía. A pé ou de carro. Amial, Arca d'Água, Antero de Quental abaixo.
A Igreja da Lapa iluminada para a Missa do Galo, no reencontro anual dos homens com Deus. Espectáculo único na Noite de Paz Portuense. E, à entrada e à saída, reencontro dos homens com os homens, anualmente irmãos.
Mais para baixo, voltavam a escuridão e as ruas desertas.

Desertas como nunca. As vielas. Sem ninguém. As portadas. Sem ninguém. Trindade, Aliados, Clérigos, Leões, Carregal. Então como agora. Ninguém. Agora como daqui a pouco. Ninguém. Desertas porque não falta ninguém. Esta noite é assim. Não é um momento hífen de uma qualquer noite de vai-vem.
Uma noite fria em que ninguém procura aquecer-se.
Noite fria para passar sem companhia.

Um Feliz Natal.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Do Vinho e da Empatia entre Utentes e Funcionários do Sistema Nacional de Saúde - XXVI

A Utente - a arfar - "Hhhhhh! Hhhhhhhh"
O Funcionário - "Mas... estes não são os medicamentos que eu lhe passei... e eu entreguei-lhe uma carta para o seu Funcionário do Sistema Nacional de Saúde de Família, a explicar porque é que mudava..."
A Utente - a arfar - "Hhhhhh! Sabe, Senhor Funcionário... hhhhhhhhh... o meu Funcionário de Família só me passa os remédios quando está com o Tinto... hhhhhhhh!
O Funcionário - "Com o Tinto?"
A Utente - a arfar - "Hhhhhhhhhh! Quando eu lá fui hhhhhhhh ... estava com a borracheira... Até fazia com a cabeça... hhhhhhhh.. a cair para a frente... hhhh e depois com muita frente para trás... Eu até lhe disse...hhhhhhhhh... "O Senhor Funcionário, vai-me trocar os medicamentos todos... hhhhhhhh Vá mas é para casa dormir, para passar a bebedeira"
O Funcionário - "..."
A Utente - a arfar - "hhhhhhhh ... zangou-se...!"

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Do Vinho e da Empatia entre Utentes e Funcionários do Sistema Nacional de Saúde - XXV

(a idosa utente roliça do Sistema Nacional de Saúde...)
- E agora o que me acontece!...quero beber um Copinho de Vinho... Verde Tinto... e mal provo um golinho arrepio-me toda!
- Arrepia-se?!?!?!?!?!?!
- Arrepio-me! Do que é?
- É de ser bom!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Lamentos de um Jantar de Natal

Estava tudo muito bom.
Mas cheguei tarde e fiquei noutra mesa.
Não foi da outra mesa. Foi do chegar tarde.
Ia a meio do bacalhau e não tinha esvaziado o primeiro copo.
Nas outras mesas nem havia Tinto.
Mas uma Garrafa para 4, em mesa de 8...
As Senhoras, Encantadoras. Foi do chegar tarde. Estive a trabalhar.
O Senhor começou com o Rui Veloso. Mas fraquinho.
E eu desabafei que para aquilo mais valia ter ido de carro.
Então à segunda, o Senhor Fadou de"Dar de Beber À Dor", aviei o que faltava e enchi sôfrego a copaça, a ver se a coisa se compunha.
Mas a plateia ignorou. E o Senhor enviezou um bocado outras músicas. Variações vocais esquisitas.
E não voltou ao Fado. A plateia ignorou...
De modo que me fiquei por ali.
Senti-me estranho.

Hoje até cheguei ao serviço antes das pessoas.

E agora acabo de saber que não é que ontem até foi Noite de Serenata.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Caso Clínico

...
-Cama 2,
- Homem de 83 anos ... hipertensão arterial ... iniciada duas horas antes, e sem factores... actualmente medicado com...
- Cama 3,
- ... hábitos tabágicos marcados... tosse e expectoração... biópsia... actualmente sem queixas... aguarda...
- Cama 4,
- ...era o cuidador da esposa... encontrado por vizinhos... permanece afásico, pouco reactivo a estímulos ... sonda naso-gástrica... sem indicação para...
- Cama 5,
- ...
- Cama 5,
- ...
- Cama 5,!!!
- !!! Desculpem!!! Estava a pensar na Vinicultuna. Querem que vos fale um bocado? É que amanhã é quinta-feira, e às vezes há serenatas que calham nesse dia...

domingo, 7 de dezembro de 2008

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento de mais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento –
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim – à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.


Ricardo Reis


quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

As crónicas de Bruno Aleixo - I

Na sequência do anterior agradecimento... um novo post aqui liberto ...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Grandes Músicas

Bem hajas, nosso velho!