quinta-feira, 16 de outubro de 2008

2 poemas para Paredes

Coração

Coração de mar e vento
Que aos corações lanças redes,
És perpétuo movimento
Na guitarra do Paredes.

Pões esperança e amargura
Livras sombra e luz nas notas,
E em surdina tens gaivotas
De saudade e de aventura.

Coração tumultuário,
Ah faminto coração,
Solidário e solitário
A prender nuvens ao chão.

Coração de melodia,
Coração em que murmuram
Sol e lua se misturam
Em funda melancolia.

De tantas fomes e sedes,
Coração terno e violento,
És perpetuo movimento
Na guitarra do Paredes.

Ah faminto coração
A prender nuvens ao chão...

Vasco Graça Moura



Guitarra (Carlos Paredes)

A palavra por dentro da guitarra
a guitarra por dentro da palavra.
Ou talvez esta mão que se desgarra
(com garra com garra)
esta mão que nos busca e nos agarra
e nos rasga e nos lavra
com o seu fio de mágoa e cimitarra.

Asa e navalha. E campo de batalha.
E nau charrua e praça na rua.
(E também lua e também lua)
Pode ser fogo pode ser vento
(ou só lamento ou só lamento)

Esta mão de meseta
voltada para o mar
esta garra por dentro da tristeza.
Ei-la a voar ei-la a subir
ei-la a voltar de Alcácer Quibir

Ó mão cigarra
mão cigana
guitarra guitarra
lusitana.
Manuel Alegre











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