quarta-feira, 19 de março de 2008

(Sobre a Ruína do Circo)

Os anões, vítimas de um receio exagerado para a sua condição física de anões, atacaram o Comedor de Fogo aos gritos.
- Diz qualquewr coisa, Comedor de Fogo, diz qualquer coisa!
O Comedor de Fogo mastigava fazendo um barulho a lenha queimada.
- Tu és o mais importante deste circo, diz qualquer coisa.
O Comedor de Fogo participava em todos os números que eram apresentados na psta do Circo Céus Americanos: acendia os arcos que os cães pequineses atravessavam arriscando o pêlo, os archotes que as Trapezistas usavam em "O Salto da Morte", os fundilhos dos Palhaços, quando ninguém se ria com os seus trambolhões, aterrorizava a Mulher Barbuda em "Os Pêlos da Rainha Ulalume", enfrentava "O Dragão Assassino Ataca Hércules", também enfrentava o Homem Mais Forte do Mundo, colaborava com o Ilusionista chamando a atenção do público, engolia vinte vezes seguidas quatroarchotes de vários tipos de chamas e acendia uma pira de lenha com três metros de altura, colocada a seis metros de distância com as suas chamas ferozes, terríveis, cheias do circense esplendor do fogo.
- Diz qualquer coisa, Comedor de Fogo, precisamos de comer.
- Quanto resta de Rum, Dom José?
- O suficiente para incendiares a cidade.
- Por mim, não há problema.

de "O Segredo da Trapezista", de Óscar Málaga Gallegos

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