segunda-feira, 30 de julho de 2007

Da Doença de Sezaltina

"E agora, Doutor, que à Mãezinha dá-lhe para sair de casa porque diz que tem de ir não sei onde, ir ter ter com uma gente que a gente nem sabe se é parente da gente se é gente que ela ouviu falar a outra gente, ou sequer se é gente, e desaparece-nos horas mesmo dentro de casa, mete-se na cave, anda para lá aos tombos com a luz apagada, e a dizer coisas trocadas! Será Alzheimer?"
E o médico, que era burro,
"Hum...Isso deve ser Alzheimer!"
E Sezaltina, de si para si, bem-pensou
"E que bem que sabe!", e melhor-lambeu uma gota de Tinto da Cave que lhe ficara no canto dos beiços.
E enquanto o médico, que era burro, passava umas vitaminas e um calmante para o Alzheimer da Mãezinha, escapuliu-se do consultório, desceu as escadas de um salto, e escondeu-se na garagem da carreira para o Porto que ficava ao lado do consultório do médico-burro, e que estava mesmo a sair. Já por isso negociara com a filha "não ir à Caixa que os de lá não querem saber da gente, e ir por ir, ia a pagar, ao que fica ao lado da garagem da carreira, que dizem que sim, é muito bom."

Porque "não sei onde" era ao Porto, e "a gente" não era parente, nem se sabe sequer se é gente, porque é da gente, quer dizer da Vinicultuna de Biomédicas-Tinto que se trata, de quem Sezaltina não ouviu falar a outra gente, antes encontrou um autocolante varrido pelo vento de uma noite de digressão, e colado nas manhãs anteriores ou nas manhãs seguintes por um menino mau no pêlo de um cãozinho-bom , que atravessou a ganir a terra, as terras atrás e à frente, as terras à volta e as estradas que as unia, até encontrar Sezaltina que descolou com cuidado o autocolante do cãozinho, e leu, "Vinicultuna de Biomédicas-Tinto? É gente boa concerteza, e não faziam isto ao bichinho.",no mesmo momento decidindo como desígnio de velhice calcorrear o país todo para os encontrar.

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