domingo, 8 de outubro de 2006

Em que aparece um senhor baixinho, de barbada cuidada, e com gravata cor de vinho, e se prosseuge a longa conversa ao luar

E fala-se da Medicina, da falta de cuidados na prevenção de infecções nosocomiais, e o Senhor do Vale, e da cura para a Hepatite C, desmentida por uma Bióloga Letã que estava alojada na Pensão Estoril, e a quem todos foram ao pito; fala-se da ingratidão do Estado para com os Heróis do 25 de Novembro, relembra-se o ataque à sede da Polícia Militar, e recordam-se noitadas com altas patentes dos exércitos Angolano, Cubano e Norte-Coreano em Luanda; e de uma equipa de futebol que tinha de atravessar as serras do Norte de Angola, e nunca foi atacada, mercê das boas relações do treinador com aquele, que, vir-se-ia a saber mais tarde, era o comandante da UNITA na região, quem diria, um homem muito culto que metia os outros todos no bolso; e de um comprimido milagroso para o paludismo, que arrancou das febres para o pelado o melhor avançado da equipa; e do marido da médica irlandesa da equipa, um tipo alto chamado Castelo, que não jogava nada mas entrava no fim para os cantos e o chuveirinho, e marcava sempre um golo; e do fuzilamento do General Ochoa; e, entre tantas histórias, se vai dando conta aos poucos, de forma entrecortada, qual Santiago Nasar de Garcia-Marquéz, da Morte Anunciada do Coimbra, no ataque ao Regimento da Amadora. Fala-se ainda do medo, no que intervém o Senhor do Vale - emboscada na Guiné, as balas a bater no alumínio do onimogue, e ele deitado, esticado (e já sabemos que esticado dentro de um carro é todo encolhido), e rá-tá-tá-tá-tá-tá!
O Senhor do Vale volta a intervir quando a propósito de Coimbra e Repúblicas vem a palavra "caloiras", "Também estavam caloiras, na quarta-feira!"
E depois, a propósito da subsídio-dependência, agora já não da comunidade científica, mas dos artistas - esses da animação de rua, que se dobram, e fazem caretas, e abrem guarda-chuvas ali na praça, e dizem que é uma crítica da sociedade, passa a ser o Senhor do Vale o protagonista. "Este homem é há muitos anos o Maior Animador Cultural da Baixa da Cidade do Porto, e nunca recebeu um tostão. É ou não é? Ainda há dias passei por ti, e estavas todo animado na cantoria. E as pessoas paravam e olhavam."
"Ah!Ah!Ah!Ah!Ah!"

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