quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Canção de Madrugar

De linho te vesti
De nardos te enfeitei
Amor que nunca vi
Mas sei.

Sei dos teus olhos acesos na noite
- sinais de bem despertar –
Sei dos teus braços abertos a todos
Que morrem devagar.
Sei meu amor inventado que um dia
Teu corpo pode acender
Uma fogueira de sol e de fúria
Que nos verá nascer.

Irei beber em ti
O Vinho que pisei
O fel do que sofri
E dei

Dei do meu corpo um chicote de força.
Razei os meus olhos com água.
Dei do meu sangue uma espada de raiva
E uma lança de mágoa
Dei do meu sonho uma corda de insónias
Cravei meus braços com setas
Descobri rosas alarguei cidades
E construí poetas

E nunca te encontrei
Na estrada do que fiz
Amor que não logrei
Mas quis.

Sei meu amor inventado que um dia
Teu corpo há-de acender
Uma fogueira de sol e de fúria
que nos verá nascer
Então

Nem choros. nem medos, nem uivos, nem gritos
Nem pedras, nem facas, nem fomes, nem secas
Nem feras, nem ferros, nem farpas, nem farsas
Nem forcas, nem cardos, nem dardos, nem guerras


de José Carlos Ary dos Santos

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