Álgebro, Professor de Aritmética, Ponto da Vinicultuna de Biomédicas-Tinto
Enquanto Álgebro, o Professor de Aritmética foi o Ponto da Vinicultuna de Biomédicas-Tinto, não mais um Tuno trocou uma letra, não mais a segunda metade da segunda estrofe encaixou na primeira metade da primeira estrofe, não mais palavras foram soluçadas à pressa ou interrompidas a meio.
Álgebro, sentava-se invariavelmente num lugar lá para o meio, onde ninguém desse por ele, ligava uma lanterninha de espreitar gargantas, prenda de um dos Tunos que ia mais adiantado, e apontava para os próprios lábios, para os próprios dentes, e cantava a letra no código que ele inventara, e só a Tuna entendia. E, guiada pelos lábios de Álgebro, a Tuna cantava certinha, certinha, certinha, pauta acima, pauta abaixo, mesmo quem tinha faltado aos ensaios, e quem não aparecia há muito tempo, embora levasse bocas na mesma.
Álgebro não sabia as letras. Sabia o código. Álgebro não cantava. Excepto quando não havia mesas livres lá para o meio, e Álgebro se tinha de sentar nos lugares junto à parede, lado a lado com o reflexo dos espelhos. Então, Álgebro lia os lábios do Reflexo do Reflexo da sua própria imagem, a soletrar o Código, e então conseguia cantar. Menos no dia em que, em lugar de olhar para os Lábios do Reflexo do Reflexo, olhou directamente os Lábios do Reflexo da própria imagem, e cantou tudo invertido. O pior é que uma velhinha ouviu, e julgou que era coisa do Diabo-VadeRetrum.
E se calhar era, porque era um código difícil, com números, contas de multiplicar e dividir por mais de dois algarismo, e com tantos Pis, Rós, Xis e Quis Quadrados, que houve quem garantisse que Álgebro era da Faculdade de Letras. Pois apesar do grau de dificuldade a verdade é que, Álgebro nunca precisou de dar explicações aos Tunos para que estes aprendessem o Código. E nem sempre as contas eram fáceis. Umas vezes apareciam muitas cervejas a mais, noutras sobravam Restos esquisitos. Mas como a Tuna cantava bem, as cervejas iam por conta da casa, e os Restos Esquisitos, dava o Tuno Grande Morsa a comer aos caloiros – isto se não lhe soubessem.
Houve a noite em que Álgebro cifrou o repertório da Tuna num problema de torneiras e tanques, e de facto, quando a actuação acabou, a sala que começara vazia, estava a transbordar, e Álgebro disse que o segredo era um enunciado com Vinho.
E Álgebro, o Professor de Aritmética, conheceu o máximo expoente enquanto Ponto da Vinicultuna de Biomédicas-Tinto, na noite em que, sem combinar, Álgebro começou a silabar por algarismos, incógnitas e potências, a cifra do Próprio Fado Cantado, e a Vinicultuna cantou à primeira, sem nunca ter ensaiado ou sequer mirado pauta, a História do Amor Desgraçado de Álgebro, Abandonado pela Mulher da Sua Vida – e toda a gente no Piolho aplaudiu – embora algumas pessoas tenham ficado com a certeza de que a senhora tinha morrido.
Mas do que Álgebro mais gostou foi da noite em que sem combinar, o Magister Piça Quadrada apresentou “O Primo Álgebro”, e Álgebro cantou o “Fado do Trinta e Um”.
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