sábado, 8 de março de 2008

Sobre a Inveja


Pã, o deus pastor, e da natureza, vagabundeava pelos campos e florestas soprando a flauta que inventara e baptizara com o seu nome. Habituado ao efeito que o som doce produzia nas criaturas da terra, cresceu nele a ideia de que era o maior o músico entre deuses e mortais. Maior que o próprio Apolo, a quem se propôs bater em competição musical.
Apolo aceitou o desafio, pretendendo puni-lo pela arrogância. Perante a montanha Tmolus, os seguidores de Pã e Apolo perfilaram-se para os escutar. Entre os que acompanhava Pã contava-se Midas, Rei da Frígia.
Pã tocou primeiro. Da sua flauta de cana soprou um som selvagem, apelativo, que trouxe dos ramos mais altos das árvores os pássaros, do fundo dos troncos os esquilos, e as próprias árvores, curvaram-se como que querendo dançar. Os faunos, estouraram em gargalhadas, antecipando com júbilo, o triunfo de Pã..
Então Apolo assumiu. Carregava a sua lira dourada. Quando fez estremecer as cordas, soltou no ar uma música como nunca fora escutada por ouvidos mortais ou imortais. Nas profundezas do bosque os animaizinho petrificaram, as folhas das árvores pararam de rumorejar, a terra deixou de respirar, o ar de suspirar.Quando Apolo terminou, encheu o mundo de vazio.
Sem uma palavra, todos os espectadores cairam aos pés de Apolo, proclamando-o vencedor.Todos excepto Midas, que, sozinho, recusava-se a admitir a superioridade de Apolo sobre a música de Pã.
Apolo sentiu-se ofendido.
"Se as tuas orelhas são tão rudes, mortal, então que tomem umas forma mais adequada." E ao toque de Apolo, as orelhas de Midas alongaram-se, pontiagudas, e escureceram, peludas, transformando-se nas orelhas de um burro.
"Judgement of Midas", de Peter-Paul Rubens, Bruxelas

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