Das Montanhas do Outro Lado do Mundo
Eu nunca acreditei que do Outro Lado do Mundo as montanhas fossem ao contrário.
Aliás estava convencido de que do Outro Lado do Mundo não havia montanhas.
Se calhar por isso é que não imaginava que me ia custar tanto chegar ao topo.
Se já as esperasse, já saberia com o que contava. Afinal, eu nunca fui bom a trepar montanhas. Sou bom é a correr, e nisso na Tuna, nem o Senhor Nogueira me bate.
Mesmo assim fui o primeiro. O primeiro a ver o céu outra vez. O primeiro a refrescar o rosto com a parte de cima das nuvens.
Os meninos pequeninos só conseguiram chegar a seguir.
Um desconsolo. Ver a minha proeza reduzida a uma fila indiana de crianças de mãos-dadas. Fiquei envergonhado. Sobretudo por nos últimos metros me ter regozijado ao conseguir ultrapassar os mais crescidinhos e a educadora infantil. Reflexo primário.
Mas depois eles logo desceram, serezinhos impacientes. E eu pude dessalivar-me à vontade. E arfar e massajar a dor de burro.
Acabei feliz outra vez. Satisfeito com a minha proeza-outra-vez.
Porque a tua florinha estava pousada exactamente no sítio onde eu achava que ia estar pousada uma flor.
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