terça-feira, 30 de outubro de 2007

Um Lamento - seis lamentos

"...Pelo menos seis elefantes asiáticos, entre os quais três filhotes, morreram electrocutados depois de se embriagarem com cerveja e baterem em cabos de alta tensão no nordeste da Índia, indicaram hoje as autoridades..."

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=10&id_news=300880

lamentamos profundamente - estamos chocados

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Do Epicurismo

Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia
Tinha não sei qual guerra,
Quando a invasão ardia na Cidade
E as mulheres gritavam,
Dois jogadores de xadrez jogavam
O seu jogo contínuo.

À sombra de ampla árvore fitavam
O tabuleiro antigo,
E, ao lado de cada um, esperando os seus
Momentos mais folgados,
Quando havia movido a pedra, e agora
Esperava o adversário.
Um púcaro com vinho refrescava
Sobriamente a sua sede.

Ardiam casas, saqueadas eram
As arcas e as paredes,
Violadas, as mulheres eram postas
Contra os muros caídos,
Traspassadas de lanças, as crianças
Eram sangue nas ruas...
Mas onde estavam, perto da cidade,
E longe do seu ruído,
Os jogadores de xadrez jogavam
O jogo de xadrez.

Inda que nas mensagens do ermo vento
Lhes viessem os gritos,
E, ao refletir, soubessem desde a alma
Que por certo as mulheres
E as tenras filhas violadas eram
Nessa distância próxima,
Inda que, no momento que o pensavam,
Uma sombra ligeira
Lhes passasse na fronte alheada e vaga,
Breve seus olhos calmos
Volviam sua atenta confiança
Ao tabuleiro velho.

Quando o rei de marfim está em perigo,
Que importa a carne e o osso
Das irmãs e das mães e das crianças?
Quando a torre não cobre
A retirada da rainha branca,
O saque pouco importa.
E quando a mão confiada leva o xeque
Ao rei do adversário,
Pouco pesa na alma que lá longe
Estejam morrendo filhos.

Mesmo que, de repente, sobre o muro
Surja a sanhuda face
Dum guerreiro invasor, e breve deva
Em sangue ali cair
O jogador solene de xadrez,
O momento antes desse
(É ainda dado ao cálculo dum lance
P'ra a efeito horas depois)
É ainda entregue ao jogo predileto
Dos grandes indif'rentes.

Caiam cidades, sofram povos, cesse
A liberdade e a vida.
Os haveres tranquilos e avitos
Ardem e que se arranquem,
Mas quando a guerra os jogos interrompa,
Esteja o rei sem xeque,
E o de marfim peão mais avançado
Pronto a comprar a torre.

Meus irmãos em amarmos Epicuro
E o entendermos mais
De acordo com nós-próprios que com ele,
Aprendamos na história
Dos calmos jogadores de xadrez
Como passar a vida.

Tudo o que é sério pouco nos importe,
O grave pouco pese,
O natural impulso dos instintos
Que ceda ao inútil gozo
(Sob a sombra tranquila do arvoredo)
De jogar um bom jogo.

O que levamos desta vida inútil
Tanto vale se é
A glória, a fama, o amor, a ciência, a vida,
Como se fosse apenas
A memória de um jogo bem jogado
E uma partida ganha
A um jogador melhor.

A glória pesa como um fardo rico,
A fama como a febre,
O amor cansa, porque é a sério e busca,
A ciência nunca encontra,
E a vida passa e dói porque o conhece...
O jogo do xadrez
Prende a alma toda, mas, perdido, pouco
Pesa, pois não é nada.

Ah! sob as sombras que sem qu'rer nos amam,
Com um púcaro de vinho
Ao lado, e atentos só à inútil faina
Do jogo do xadrez
Mesmo que o jogo seja apenas sonho
E não haja parceiro,
Imitemos os persas desta história,
E, enquanto lá fora,
Ou perto ou longe, a guerra e a pátria e a vida
Chamam por nós, deixemos
Que em vão nos chamem, cada um de nós
Sob as sombras amigas
Sonhando, ele os parceiros, e o xadrez
A sua indiferença.

Ricardo Reis, 1-6-1916

domingo, 28 de outubro de 2007

Vinicultuna - Protocolo de Velhice - III

"Na Sua Velhice, o Tuno da Vinicultuna não estará correctamente trajado, sem o seu Lenço de Escarrar."

"Na Sua Velhice, e sempre que na qualidade de Palestrante Decano Convidado, o Tuno da Vinicultuna dissertar sobre o Homem e a Doença, usará termos como "Vísceras", "Humores", "Éteres" e "Males"."

"Sempre que a Sua Velhice levar um Irmão de Vinho, a Vinicultuna expressará as condolências segurando a mão da Viúva, fitando-a com admiração, e exclamando com majestade "Minha Senhora, Foi na vezinha dele!" , no que será a máxima manifestação de consideração e respeito pelo Notável e Completo Percurso de Vida do Ausente."

sábado, 27 de outubro de 2007

Grandes Frases LXXIII

"Gosto mais de ti do que de Vinho!"

um Tuno da Vinicultuna, para a sua enamorada

Das Montanhas do Outro Lado do Mundo

Eu nunca acreditei que do Outro Lado do Mundo as montanhas fossem ao contrário.
Aliás estava convencido de que do Outro Lado do Mundo não havia montanhas.

Se calhar por isso é que não imaginava que me ia custar tanto chegar ao topo.
Se já as esperasse, já saberia com o que contava. Afinal, eu nunca fui bom a trepar montanhas. Sou bom é a correr, e nisso na Tuna, nem o Senhor Nogueira me bate.
Mesmo assim fui o primeiro. O primeiro a ver o céu outra vez. O primeiro a refrescar o rosto com a parte de cima das nuvens.
Os meninos pequeninos só conseguiram chegar a seguir.
Um desconsolo. Ver a minha proeza reduzida a uma fila indiana de crianças de mãos-dadas. Fiquei envergonhado. Sobretudo por nos últimos metros me ter regozijado ao conseguir ultrapassar os mais crescidinhos e a educadora infantil. Reflexo primário.
Mas depois eles logo desceram, serezinhos impacientes. E eu pude dessalivar-me à vontade. E arfar e massajar a dor de burro.
Acabei feliz outra vez. Satisfeito com a minha proeza-outra-vez.
Porque a tua florinha estava pousada exactamente no sítio onde eu achava que ia estar pousada uma flor.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Do Grande Livro da Vinicultuna e dos Animais - VIII

“Os primeiros a juntarem-se à nossa Trupe, foram os Cavalos, os Bois, e um ou outro Jumento, por ocasião da Longa Prédica na Trave de Suporte do Pombal por Cima do Estábulo, “O Vinho Puxa Carroças”

“Quando Borrachos, à hora de pagar e sair do Tasco, os Bichos de Conta dão um jeitão.”

“Apesar de tudo, do Respeito e das Boas Relações, a Vinicultuna não é vegetariana”

Do 21 de Maio - "nenhum fdp beberá do meu vinho" - Notas Ilustrativas




E peço desculpa uma vez mais...

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Grandes Frases - LXXII


!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!,
diz o Pipo

Em que Álgebro tende para Zero

Zum Zum Zum Zum Zum Zum Zum Zum
Tudo começou por um Zum Zum.
E nem Álgebro, o Professor de Aritmética, Ponto da Vinicultuna de Biomédicas-Tinto, nem qualquer Tuno se aperceberam. E que não se diga que estavam borrachos. Que nesse estado poderiam escutar o ténue suspiro de uma donzela que não apagasse uma vela, que não embaciasse a vidraça, na água-furtada do último prédio da Rua de Cedofeita.
Zum Zum Zum Zum Zum Zum Zum Zum.
Continuou. Não era uma donzela. Nem sequer uma mosca. Apenas um ruído incomodativo, embora crescente. Nada que valesse quebrar a Alegria de Álgebro, que transbordava lágrimas de Saudade da Mal-Agradecida.
Zum Zum Zum Zum Zum Zum Zum Zum
Não havia passado de fim de tarde em casa vazia com mulher ausente.
"Claro que não", diria Abelardo, o Cavalo que Cala, sentindo necessidade de evidenciar a sua erudição - único motivo, além da Boa-Educação, por que quebraria o seu quase-voto de silêncio, "É óbvio que se refere como "a que partiu", "a que o deixou", para não nos violentar com "a que morreu". Mas lessem vocês a expressão de Álgebro quando alegre chora a desgraça, como quando cantando seguis os movimentos dos seus lábios, e conseguis ler sem vacilar as letras codificadas, e saberiam como eu", um pouco presunçoso, este Abelardo, mas nunca tínhamos dito o contrário, e continuamos a ser amigos na mesma, "que a Dor de Álgebro se deve mais a...", e amigo Abelardo, a presunção é uma coisa feia, ou quem te manda falar, Cavalo Calado?, com esse ar afectado, quando pretendendo comparar a dor do Professor de Aritmético, apenas te ocorre a Dor de Corno, para opor à Dor da Alma mas nem essa serve, pois aí também dói aos desenganados, e então tentas a Dor da Morte, mas já disseste "a que morreu", e depois engasgas... e deixas a prosa a meio.
E logo um indiscreto, na mesa ao lado - "deve ter sido cancro. tão nova..."
Mas...
Zum Zum Zum Zum Zum Zum Zum Zum
... também não haveria falecida.
Que alheio a tudo, Álgebro, Feliz, continuava a chorar.

Do Fim da Noite XVI

E o tempo em que nos beijávamos de olhos fechados, procurando entender o significado íntimo dos silêncios, e o tempo em que os silêncios se enchem e os olhares se encontram, para não mais se apartar. Pode viro céu cinzento, e pode nem nascer o sol. Depois do fim da noite, não mais o dia será triste.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Os Nossos Outros Valores - XXXVII

"Sempre que nas suas divagações a pé, de burrico ou a cavalo, o Tuno da Vinicultuna tropeçar na banca de uma Vendedeira Careca, comprar-lhe-á qualquer coisa."

"A Vinicultuna não paga em dinheiro às Vendedeiras Carecas. Antes lhes entrega Capachinhos de Lã de Pardal, feitos conforme ensina o Grande Livro da Vinicultuna e dos Animais."

"Nunca o Tuno da Vinicultuna retirará sem licença o lenço que cubra a cabeça de uma Vendedeira que em cuja banca tropece, e cuja escassez de capilaridade careça averiguar. Não lhe está no entanto vedado o uso da Astúcia ou do Galanteio."

domingo, 14 de outubro de 2007

Menina Nua


Menina Nua...
Menina do sorriso
lua da tua graça
tapete da tua dor,
o teu sorriso...
Sentado em quatro bicas da mesma fonte
lança a água,
no teu sorriso.
Unidas as aves
surgem em todo o lado
menos no sorriso...
António Simões do Vale, Luz do Tempo

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Vou já Cagalhão

Já não era sem tempo...

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Descanse Em Paz II

Dirigi-me ao mar
Peguei num barco
E remei...
Remei durante horas com toda a força que tinha
Enquanto aguentei.
Até que esgotei.
Aí icei as velas e deixei-me à deriva
Durante horas
Dias
Semanas.
Perto do fim atirei-me ao mar alto
Na esperança de alcançar o mar profundo,
Lá onde a luz não chega
E a vida é quase impossível.
Alcancei.
Cessei os movimentos.
No escuro e no silêncio...
Veio a paz.
E lá fiquei.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Novos Instrumentos Musicais



Castelo de Vide