terça-feira, 11 de abril de 2006

Férias nas Biomédicas, Regresso ao Recreio da Minha Escola - Jogos e Cantigas da Nossa Infância - VIII

Um jogo - tendo falhado as férias de Carnaval, estava à espera da Páscoa para lançar:
quem nunca brincou com

"Peidinhos Engarrafados"
ou "Ampolas de Mau-Cheiro", assim eram chamados aqueles balõezinhos de vidro frágil, que se adquiriam na tabacaria do Senhor Parreira.
À transparência amarela do fino cristal, o líquido parecia inócuo - transparente, insípido, inodoro.
Inodoro.
Puro engano.
Uma vez quebrado no fundo de alumínio preto do caixote do lixo da sala 2a do pavilhão C, ou esborrachada sob o rabo do colega gordo, ou lançado em corrida à passagem da casa do porteiro - o Senhor Melo, ou Caramelo, porque era vermelho como um caramelo vermelho, ou o Senhor Pinheiro, que tinha barba, e a quem a gente perguntava, "Estás Bravo ou estás Manso?"-, o compartimento atingido era invadido por um odor pestilento que obrigava à sua evacuação urgente.
Estava atingido o objectivo do jogo.

A jogada mais brilhante de sempre.
Aquela manhã estava a correr bem. O Luís António, vítima habitual das maroteiras dos colegas, estava a obter a sua vingança. Duas bombinhas de mau cheiro lançadas e quebradas sob a porta da retrete, supreenderam o aflito utente.
Mau desportista, uma vez cumprida a higiene anal, aquele assumiu o papel de queixinhas. Postos em acção, os Senhores Melo e Pinheiro, apanharam o feliz Luís António, sustendo o ataque aos balneários, em final de aula de Educação Física.
Apreendidos os óbuses, o Luís António foi encaminhado ao Conselho Directivo, onde o esperava o Director, o Professor Manaú. Homem grande em tamanho e coração. Pedagogo e compreensivo, repreendeu o garoto, mas logo perdoou a falta, devolvendo os projécteis confiscados.
"É Carnaval, ninguém leva a mal", despediu-se, com uma palmadona pesada mas amiga, sobre o bolso do petiz.

Uma cantiga

Esta nós não cantávamos.
Em roda no jardim de infância, instados pela educadora a cantarmos, um-a-um, uma cantiga diferente, nós deixávamos esta para o Tiago Teixeira. Todos sabíamos que era a única cantiga que ele seria capaz de entoar.
No que se prova que as crianças não são necessariamente cruéis.

"Atirei o pau ao ga-to-to!
Mas o ga-to-to,
Não morreu-eu-eu!
Dona Xi-ca-ca,
admirou-se-se
Com o berro, com o berro que o gato deu
Miaaaaaaaaaaaaaauuuuuuuuuuuuuuuuuu!"