Dos Tuparões
"(...)Desta gente fomos muito melhor agasalhados que das outras nações, porque os mais dos dias nos banqueteavam. E porque num banquete destes, em que todos os nove nos achámos com o embaixador, um dos nossos, de nome Francisco Temudo, lhes levou vantagem no beber, quase injuriados por isto, e havendo-o como muito grande afronta, fizeram o banquete mais comprido para restaurarem sua honra; porém o português se deu tal manha com vinte deles que então estavam à mesa, que todos ficaram deitados à costa, e ele ficou muito inteiro. E depois que tornaram em seu acordo, o sapitou, que era o capitão deles, em cuja casa se dera o banquete, mandou chamar todos os seus, que seriam de trezentos homens para cima, e pondo o português, por muito que lhe pesasse, em cima de um elefante, o levaram por toda a cidade, acompanhado de infinita gente, com muitos tangeres de trombetas, e tambores, e de outros instrumentos, e o capitão, e o embaixador, e nós com todos os bramás detrás dele a pé com ramos nas mãos , e dois homens a cavalo, que em vozes muito altas iam dizendo:
- Louvai, gentes , com alegria, os raios que procedem do meio do sol, que é o deus que nos cria os nossos arrozes, por vos chegar o tempo em que, vísseis em vossa terra um homem tão santo que bebendo mais que quantos nasceram no mundo, derrubou as principais vinte cabeças da nossa quadrilha, para sua fama ser aumentada em todos os dias.
(...)"
da Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto
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