Fado Malhoa
Alguém que Deus já lá tem,
Pintor consagrado,
Que foi bem grande
E nos dói já ser do passado,
Pintou numa tela
Com arte e com vida
A trova mais bela
Da terra mais querida.
Subiu a um quarto que viu
À luz de petróleo
E fez o mais Português
Dos quadros a óleo.
Um zé de samarra
Com a amante a seu lado,
Com os dedos agarra,
Percorre a guitarra,
E ali vê-se o Fado.
Faz rir a ideia de ouvir
Com os olhos, senhores,
Fará, mas não para quem
Já ouviu mas em cores.
Há vozes de Alfama
Naquela pintura
E a banza derrama
Canções de amargura.
Dali vos digo que ouvi
A voz que se esmera,
Dançando o faia banal
Cantando a Severa
Aquilo é bairrista
Aquilo é Lisboa
Boémio e Fadista,
Aquilo é de artista
E aquilo é Malhoa.
"Fado Malhoa", de José Galhardo
(Música de Frederico Valério)
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