O Gato que Comia Com a Gente
A gente estava a comer. O Gato chegava, entrava, dirigia-se à nossa mesa – há sempre um lugar vazio -, sentava-se e comia com a gente.
Com mais modos ate, que ele tinha bigodes e raramente lhe respingava para a toalha. E não falava com a boca cheia. Alias, não falava. No que até era um bocado desagradável. A gente ali, e ele nem uma nem duas. Chegava, sentava, sem pedir licença, e comia com a gente. Nem se dava ao trabalho de olhar para a lista ou interpelar o Senhor Filipe. Comia com gente do que a gente estivesse a comer – pedimos sempre para mais um. E ainda se dava ares de superioridade, olhando-nos de canto, se acaso nos respingava para a toalha ou falávamos de boca cheia. Não implicava, mas havia reprovação naquela maneira de olhar.
No fim, uma vez comido com a gente, levantava-se, pousava o guardanapo, e ia embora com ar de enfado, sem se despedir
Não podemos dizer que sentíssemos simpatia por este Gato que comia com a gente, mas não tínhamos outro. Que saibamos, ninguém tem. E há pessoas muito piores.
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